Reportagem publicada originalmente em Autoesporte número 242, de fevereiro de 1985
Aparentemente eles não diferem muito, mas pode-se dizer que o Gol com motor refrigerado a água é um novo carro, pelo menos em comportamento e desempenho. Além do novo motor, ele conta com as versões mais sofisticadas de acabamento, S e LS. Para o motor refrigerado a ar restou somente a opção BX, totalmente desprovida de atrativos quanto ao acabamento.
Desde o primeiro semestre de 1980 que o público espera pelo carro lançado em fins de 1984. O primeiro Gol, o 1.300, foi um retumbante fracasso, que só o lançamento do motor 1.6 conseguiu reabilitar, mesmo que não fosse a opção mais desejada.
Depois de muita teimosia finalmente chega até nós a mais agradável e a melhor versão do Gol, apesar da carroceria já ter quase cinco anos de existência sem qualquer alteração e apresentar um certo “cansaço” de linhas.
O Gol com motor MD270 – do Passat – mudou da água para o vinho. Então optamos em fazer um comparativo entre a “velha” versão, com motor refrigerado a ar, e a nova, com refrigeração líquida.
O principal enfoque deste comparativo resume-se às modificações mecânicas e ao comportamento geral, já que a versão com motor a ar ficou definitivamente relegada a segundo plano, restringindo-se em sua grande maioria a atender aos grandes frotistas. Hoje os carros equipados com motor refrigerado a ar só são produzidos na versão BX de acabamento, o que significa que são desprovidos de qualquer equipamento, contando somente com o indispensável.
Para que se tenha uma ideia do despojamento do modelo, o BX não conta com luz de ré, chave para a porta do passageiro, chave para a tampa do compartimento do combustível e outros “pequenos” detalhes.
A simples troca de motor já é suficiente para tornar o Gol mais confortável. O motor a água é mais silencioso, mais dócil e agradável de dirigir – apesar de apresentar mais eficiência –, além de acabar com aquele incômodo sacolejo, característica de todo Gol com motor refrigerado a ar em marcha lenta.
Para compor essa nova imagem do Gol a fábrica introduziu desde novas cores até a adoção da parte frontal do Voyage como principais itens de diferenciação externa. Internamente ele ganhou um novo painel, apesar de manter o mesmo design para o conjunto de instrumentos, forração de portas com porta-objetos e novo desenho para apoios de braços, e trincos e manivelas repensados.
A temperatura é registrada por um marcador gradual e a luz de cortesia mudou de lugar e ganhou nova conformação estética. O novo painel tem dois novos defletores de ar e o carro passa a ter opção de ar quente. Os bancos foram remodelados para maior conforto e firmeza nas curvas, e os cintos de segurança são de três pontos com duplo travamento (catraca e inercial).
A inclusão do motor MD-270 provocou profundas alterações no comportamento e no desempenho. O motor a ar do BX tem potência de 51 cv a 4.400 rpm, enquanto o refrigerado a água tem 81 cv a 5.200 rpm. Além do maior torque, o motor a água apresenta essa característica a menores rotações, o que contribui para maior elasticidade e melhor dirigibilidade no trânsito urbano: 10,7 mkgf a 3.000 rpm para o BX e 13,0 mkgf a 2.600 para o LS.
A mudança de motor também obrigou a uma calibragem de suspensões, assim como outra distribuição de peso, já que o motor MD270 é 22 quilos mais pesado (98 contra 120 kg) do que o motor a ar, e o fato do BX ser a versão mais desprovida de atrativos também contribui para torná-lo mais leve. Exatamente o contrário do LS, que acumula maior número de opcionais. Segundo o fabricante o BX pesa 800 quilos contra 850 kg do LS.
O motor a água trouxe incontestáveis melhorias para o carro, mas também um inconveniente. No BX há espaço suficiente para o estepe no mesmo compartimento do motor, e para o motor refrigerado a água isso torna-se impossível. O porta-malas que não era dos melhores com o estepe mostra-se insuficiente para bagagem.
Também o sistema de direção passou por ligeiras modificações. O BX dá 3,6 voltas de volante de batente a batente, e a versão com motor a água 3,4. Apesar dessa diferença mínima, o BX apresenta maior facilidade para manobras em espaços restritos. Ele tem diâmetro de giro de 9,7 metros enquanto o LS precisa de 10,2 metros para a mesma manobra
O LS mereceu distinção também quanto a rodas e pneus. Enquanto o BX só vem equipado com rodas de 13 x 4,5 polegadas e pneus 155 SR 13, o LS tem a opção de rodas de 13 x 5 polegadas, de aço ou liga leve, e pneus 175/70 SR 13. Estes ganham em eficiência e dirigibilidade.
A pequena mudança de visual, o conforto e o silêncio não respondem pelo maior impacto no novo Gol. Isso fica por conta da boa dirigibilidade e desempenho. Quem andou bastante com um BX ou com o antigo Gol terá uma surpresa. O carro ficou muito mais gostoso. Motor, câmbio, conforto de marcha, dirigibilidade e desempenho são muito melhores. Só o consumo é que não apresentou diferenças significativas entre um modelo e outro.
Com o motor a água obtivemos médias de 7,8 e 11,2 km/litro para cidade e estrada, respectivamente, enquanto o BX com motor a ar rodou 7,7 e 11,3 km/l nas mesmas circunstâncias. Praticamente o mesmo consumo.
Quanto ao desempenho as coisas mudam muito de figura. O BX vai da imobilidade aos 80 e 100 quilômetros por hora em 10,9 e 17,9 segundos, e o LS precisa de apenas 7,9 e 12,4 segundos para atingir as mesmas marcas. Nas retomadas a vantagem também é para o motor a água, tornando-se mais acentuada nas retomadas de 80 a 100 quilômetros horários.
Diante de tal quadro é quase desnecessário dizer que na velocidade máxima a diferença chega a ser gritante, tratando-se de dois motores 1.6, um moderno e o outro com 50 anos: 162,8 km/h para o LS e 136,4 km/h para o BX.
Com as modificações introduzidas e as opções de rodas e pneus o LS ficou mais estável e melhor de dirigir em situações críticas e em curvas feitas no limite da aderência. Além do bom comportamento nas frenagens de emergência.
Podemos dizer que este era o Gol que todos queriam desde o início da sua produção, anos atrás. Não que os anteriores fossem carros abaixo da média, tanto que se tem mantido em evidência quanto aos índices de vendas. O problema é que o novo Gol com motor a água está muito acima dos padrões antigos e deverá melhorar ainda mais esses índices.
A menos que o preço assuste um pouco. Em janeiro de 1985 o BX, o mais barato, custava Cr$ 16.198.901,00 e o LS com o menor número de opcionais possível Cr$ 20.053.640,00. Mas um LS com todos os opcionais podia chegar aos Cr$ 21.388.830,00.
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Fonte: Auto Esporte